A Humanização nas UTIs Neonatais, hoje é assunto de utilidade pública. Em 2003 o Ministério da Saúde tornou o programa de humanização uma Política Nacional. O objetivo é valorizar a dimensão humana nas práticas voltadas a área de saúde.
A melhoria da qualidade no atendimento das unidades de terapia intensiva neonatais (UTIN) proveniente dos avanços tecnológicos, maior conhecimento da fisiologia e das patologias e a entrada de novos profissionais como fisioterapia, psicologia, fonoaudiólogos, entre outros, trouxe uma mudança significativa na morbimortalidade dos recém-nascidos, quer seja os prematuros ou aqueles que apresentam quadros de síndromes ou malformações.
E se pararmos para pensar, não há nada mais “humano” que as novas tecnologias empregadas dentro das unidades neonatais uma vez que tecnologia é marca registrada do homo sapiens. Paradoxalmente, quanto mais recursos tecnológicos utilizamos, menos “humanos” nos tornamos já que delegamos as máquinas boa parte do trabalho a ser feito.
Nesse sentido, houve uma crescente demanda pela questão da humanização dentro das UTIN ao longo do tempo. Essas práticas foram se tornando instrumentos de grande valia no acolhimento e no tratamento dos bebês e suas famílias. E o melhor de tudo é que, além de trazerem enormes benefícios, as estratégias de humanização em geral são de baixo custo quando comparadas a outras estratégias de promoção de saúde com impactos semelhantes.
Um grande exemplo disso é o método Canguru criado e implantado, em 1979, na Colômbia por Edgar Rey Sanabria e Hector Martinez, no Instituto Materno-Infantil de Bogotá. Na época a falta de incubadoras, situações de abandono, infeções cruzadas, altas taxas de mortalidade e falta de recursos tecnológicos foram mobilizadoras para pensar numa alternativa. Surgiu, então, a técnica chamada: “Mãe Canguru” inspirada numa subclasse de mamífero, os marsupiais. Estes são desprovidos de placenta completa, dotados de marsúpio, uma espécie de bolsa que contém as glândulas mamárias e serve para carregar e proteger os filhotes. A técnica de baixo custo e excelentes resultados clínicos, foi utilizada em atenção ao recém-nascido em situação de baixo peso ao nascer e/ou prematuridade. Fundamenta-se no contato da pele do cuidador, não necessariamente a mãe, numa espécie de rede aderida ao corpo onde o bebê é instalado.
Estudos mostram que o tempo de hospitalização de recém-nascidos submetidos ao método Mãe-Canguru é mais curto comparado aos recém-nascidos com tratamento convencional. Além do tempo de permanência na UTIN, outros benefícios são diminuir o estresse físico e psicológico tanto dos bebês como de seus familiares, aumento da duração do aleitamento materno exclusivo, crescimento ascendente, controle térmico efetivo, bom controle de frequência respiratória e oxigenação, controle da glicemia, sono mais tranquilo, melhor desenvolvimento neuropsicomotor, benefícios sociais e redução das taxa de mortalidade, morbidade e nos custos da saúde.
Ao inserir a família dentro da unidade neonatal, há uma diminuição na quantidade de procedimentos (principalmente os dolorosos) com o recém-nascido, a mãe ou os cuidadores são colocados como protagonistas no tratamento das crianças e isso favorece o vínculo mãe-bebê facilitando assim a construção da parentalidade e ajudando a reconstruir a imagem da maternidade que foi destruída ou alterada pelo parto prematuro.
Além do Método Canguru outras estratégias e ações foram sendo desenvolvidas nos últimos anos. São exemplos: envolvimento dos pais e familiares como parceiros, visita de irmãos e avós, momento PSIU (diminuição dos ruídos e luzes e respeito ao sono dos bebês), manejo adequado da dor, fornecimento de cuidados contingentes etc.
Mas além dos programas e projetos de humanização, como os citados acima, como os profissionais podem trabalhar individualmente para ajudar a tornar os serviços mais humanizados?
Uma dificuldade que os pais encontram dentro da UTIN é quanto a “competência” para cuidar de seu bebê. Como se colocar no papel de cuidador uma vez que há profissionais que sabem fazer isso “melhor” do que eles? Nesse sentido, os profissionais podem exercitar a renúncia do “saber tudo” sobre o bebê e convocar e autorizar os pais a contribuírem com o que eles sabem sobre sua cria.
Saber escutar e ter empatia com os familiares é um grande passo dentro deste processo de tornar a humanização uma realidade. Saber reconhecer e acolher emoções e sentimentos que de certa forma são comuns para pais de bebês que permanecem na UTIN: ansiedade com relação ao futuro do bebê, além de sensação de fracasso, de incompetência, de incapacidade, de insuficiência, de inadequação e sentimento de culpa que assolam as mães nessa situação. É preciso lembrar que além de estar diante de bebês prematuros, esses profissionais também estão lidando com pais prematuros.
Por fim, é fundamental que os profissionais de saúde, independentemente da área de atuação, possam se reconhecer como protagonistas e corresponsáveis por qualquer estratégia ou programa adotado.
Pediatra – Neonatologista. Membro do Departamento de Saúde Mental da Sociedade de Pediatria de São Paulo. Membro do Núcleo de Desenvolvimento e Aprendizagem da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
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